
Não te contaram, mas a religião oficial do país é o Kardecismo. Duvida? Se saírem por aí na rua fazendo uma enquete, perguntando à população quem acredita em "espíritos" e "reencarnação", não me espantaria se os crentes chegassem a noventa e tantos por cento do público. É óbvio, o mais positivista dos países não poderia deixar de seguir a mais positivista das religiões.
Chegamos até (mais de uma vez, inclusive) a absurdos como cartas "psicografadas" sendo aceitas como provas em tribunais. Mas, a justiça brasileira é esse nojo mesmo (por falar em positivismo), então já estamos acostumados. No Brasilzão de meu Deus, a estupidez vira jurisprudência.
E aí semana passada eu estava no aeroporto procurando uma coisa pra ler quando me deparei com a capa acima da Istoé. Bem, não que eu esperasse coisa melhor deles - quem publicou aquela entrevista com os Vedoin é capaz de publicar qualquer coisa, mas este não é o ponto - folheando o artigo, fica gritante eles não interpretaram o fenômeno com o distanciamento necessário: "hm, algumas crianças estão alegando contatos com o além, várias familias passaram por experiências semelhantes, vamos ouvir todos os lados da história - religiosos, cientistas, etc" - dando-lhes, claro, o imenso benefício da dúvida que esta premissa é pelo menos verdadeira. Mas não houve distanciamento nenhum aqui. A estrutura do artigo é a seguinte:
- Crianças estão falando com os mortos
- A medicina e a psicologia rotulam todas elas como "doentes"
- "No vácuo deixado pela medicina, avançam cada vez mais as explicações alternativas que conciliam ciência e transcendência."
- Vários parágrafos de explicações que conciliam "ciência" e transcendência
- Conclusão: "Delas [destas crianças] surgirá, quem sabe, um novo Chico Xavier."