sexta-feira, 9 de fevereiro de 2007

O melhor do Brasil etc.



Reinaldo Azevedo fecha a questão. O contraste vítima-criminoso nesse caso mostra claramente qual é o problema. Ho-hum. O tipo de coisa que, vista daqui da minha cadeirinha na Califórina, dá aquela sensação boa por dentro e aquela alegria incontrolável de estar voltando à pátria canarinho que tão bem cuida dos seus. Enquanto isso, os americanos estão acompanhando cada segundo do falecimento da Anna Nicole Smith. Antes disso, era a astronauta psicótica. Ignorance is bliss, indeed.

Aquele "menor", bem maior do que o menino João, cujo corpo ele ajudou a espalhar pelas avenidas do Rio, vai ficar três anos internado. E depois será solto entre os meninos-João, por quem não se rezam missas de apelo social. Resta só a dor da família: privada, sem importância, sem-ONG, "sem ar, sem luz, sem razão". Sobre o assassino, há de se derramar a baba redentora rousseauniana: ele nasceu bom; foram os insensíveis da classe média, à qual pertencia o menino João, que o tornaram um facínora. Simbolicamente, a culpa é de quem morre. Também notei que os jornalistas ficaram um tanto revoltados com a polícia, que obrigou os bandidos a mostrar o rosto. Não há dúvida: terrível ameaça à privacidade. Era só o que faltava: trucidar o menino João e ainda ser obrigado a expor a cara... Que país é este? Já não se pode mais nem arrastar uma criança num automóvel e permanecer no anonimato? Sabem do que morreu o menino João? De um ataque virulento de progressismo. Para o menino João, não tem ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente), não. Não tem ONG, não. Não tem música do Chico, não. O menino João já nasceu sem perdão. É o guri dos sem-Chico Buarque.