quarta-feira, 14 de fevereiro de 2007

Bananão: Open for business

Eu muito raramente falo de coisas diretamente relacionadas ao meu trabalho aqui, mas hoje acho que é uma boa oportunidade para educar vocês sobre o que é fazer negócios no Bananão. Quais são as facilidades e as benesses que este país oferece às empresas que aqui decidem se estabelecer, gerar riquezas e empregos.

Vamos lá.

Indiretamente, meu trabalho envolve relacionamento com universidades. Existe uma outra unidade que cuida especificamente disso e minha participação é marginal. Uma coisinha aqui e outra ali. Porém, tive que me envolver recentemente quando o pessoal da matriz decidiu mandar uma remessa de aparelhos celulares como doação para uma universidade brasileira, parte de um projeto maior de criação de laboratórios de pesquisa e desenvolvimento em tecnologia móvel (Essa remessa em si foi muito pequena, o que não impediu, claro, que 1/4 dos aparelhos tenham se extraviado em algum lugar no Brasil -imagino que estejam no Mercado Livre neste momento).

Estes celulares são enviados não diretamente para a universidade e nem para o pessoal que cuida do relacionamento com eles, mas para mim, no escritório de São Paulo, por uma questão de segurança. Uma bobagem de gringo, mas eles se sentem mais felizes assim. Meu trabalho nesse caso era simples demais - receber os celulares, verificar se estava tudo certo, colocar no Sedex, mandar para quem era de direito. Easy as pie. Quisera eu que meu trabalho fosse sempre assim, pensei.

Mal sabia eu que estava prestes a aprender uma dura lição. A história é mais longa do que isso mas vou resumir: Os aparelhos chegaram e ficaram retidos na logística. Haviam algumas taxas a pagar. Imaginei eu que eram apenas as tarifas alfandegárias, que mesmo sendo uma doação sem preço de custo sempre incidem, mas fazer o quê.

Qual não foi a minha surpresa quando eu descobri que um inusitado monte de dinheiro foi debitado em meu centro de custo referente às supracitadas "taxas a pagar". Depois de uma série de e-mails enviados para baixo e para cima chegamos à origem do problema, que compartilho com vocês.

Os aparelhos foram enviados sem custo, por serem uma doação, mas com um valor declarado de 4.860 euros. O que dá mais ou menos 13 mil reais. O frete foi mais uns 150 euros, tudo pago pela matriz. O valor que me debitaram foi a soma do que tem que ser obrigatoriamente pago aqui no Brasil, independente de serem doações, sem custo, para fins educacionais, etc. etc. etc. a saber:
  • Imposto de Importação: R$2.084,09
  • IPI: R$2.266,45
  • Siscomex: R$40,00
  • PIS: R$306,18
  • Cofins: R$1.410,28
  • ICMS : R$4.199,83
  • Total: R$10.306,83
Olhe lá o preço original dos aparelhos e olhe aqui em baixo o overhead que o governo cobra por absolutamente nada. Because they can. Uma cascata de impostos que não faz absolutamente o menor sentido. Vocês conhecem a expressão "Custo Brasil"? Bem, acabaram de ver um exemplo ao vivo, bem pequenininho, do que isso significa. Tenho outras histórias, maiores e melhores, com muito mais zeros, mas estas é melhor nem discutir. Fiquem aí com esse gostinho.

Bananão: Open for business, otário.