sábado, 29 de março de 2008

Eu e Lula concordamos em uma coisa. Sério!

Do Radar da Veja:

No encontro que teve no dia 19 de março com o presidente da Comissão Européia (o braço executivo da União Européia), Durão Barroso, Lula deixou clara a sua torcida pela vitória de John McCain na eleição de novembro nos EUA. O "amor" de Lula pelos republicanos é mais do que interessado: ele os considera menos protecionistas que os democratas.


Vivo falando isso, mas a burritsia (burritsia é o oposto de intelligentsia) brasileira, tendo visto Michael Moore demais, sempre acha que é porque eu sou neoliberal. Ou algo parecido. Mas não, imbecis - um governo republicano é, foi, e sempre será melhor para o Brasil que um governo democrata.

Mas quase perco o fio da meada - veja você, eu e o Lula concordando em gênero, numero e grau em alguma coisa. Tem sempre uma primeira vez para tudo.

Clareza

A briga dos jornalistas que fazem o seu trabalho de policiar o poder ("Jornalismo é oposição, o resto etc. etc.") versus as velhas prostitutas e ratazanas que estão na folha do governo, dos fundos de pensão, de lobistas e sabe lá quem mais, é críptica e meio complicada de entender para quem não está por dentro. Mas poucas vezes foi revelada com tanta clareza como tem sido dia após dia pela Janaína Leite, em seu Arrastão que já recomendei aqui e recomendo de novo.

Por exemplo, leia E Agora José sobre o nosso "jornalista" favorito (o texto ao qual ela se refere é uma das peças mais aterradoras da história do "jornalismo") e Saiu o Acordo sobre a vinda da TELEZONA.

sexta-feira, 28 de março de 2008

Clube das Democracias

Leio no Reinaldo Azevedo (preguiça de achar o link) que tem eleições no Zimbábue (é assim que escreve) neste final de semana. Para provar que não vai ter sujeirada (oh yeah), o governo do gorila Robert Mugabe convidou uma comissão de observadores internacionais. Só que como neguinho gosta mesmo é de fazer embaixadinha pra torcida, então a União Européia e os Estados Unidos levaram bola preta. Além de uns países africanos lá, convidados foram as seguintes democracias: China, Irã, Venezuela, Rússia e... Brasil.

Diga-me com quem andas, etc.

quinta-feira, 27 de março de 2008

Não vem atrapalhar não, Bush

A sorte é que o Brasil é tão irrelevante internacionalmente que as merdas que o Lula fala não repercutem fora do país. Então gente, podem ficar tranquilos - fora do Brasil ninguém tomou conhecimento *.

Brasil optou por ser um país capitalista moderno, diz Lula

Lula enfatizou a necessidade de atenção à recessão dos EUA, ressaltando que o sistema financeiro do Brasil não está envolvido na crise do financiamento ao mercado imobiliário.

"Subprime porque é lá. Se fosse aqui no Brasil, seria caloteiro mesmo".

Lula contou ter telefonado duas vezes para George W. Bush, porque soube, por meio do primeiro-ministro britânico, que o presidente norte-americano estava chateado com o discurso duro em relação aos EUA.

"Eu disse para o Bush: o problema é o seguinte meu filho, nós ficamos 26 anos sem crescer, agora você vem atrapalhar? Resolve a sua crise", disse o presidente brasileiro, ao relatar a conversa com Bush.


* Considerando os números majestosos de circulação dos jornais brasileiros, arrisco dizer que dentro do Brasil, também, passa desapercebido.

terça-feira, 25 de março de 2008

Formação de capital humano de cu é rola

Confesso que, por uns quinze minutos, já acreditei nesse papo de "pólo tecnológico", "criação de capital humano". Estive lá, in loco, e o que eu vi foi uma série de desculpas para o desperdício de dinheiro público.

A sorte que eu tive foi que antes que eu cometesse o mesmo erro DE NOVO, mudando do Norte para o Nordeste, a providência divina me levou para São Paulo. Mas, só cuspo com carinho no prato em que comi. Aprendi muita coisa neste período, e a mais importante destas lições é: LUGAR ONDE TEM PROSTITUIÇÃO INFANTIL VAI VIRAR PÓLO TECNOLÓGICO DE QUE?

Mas enough about me. Tem um post hoje do Nova Corja (que seria o meu blog favorito se falasse só de política nacional e largasse mão dessa "cobertura política" gaúcha):

Volta e meia alguém no governo vem com aquela história de transformar a cidade ou Estado X ou Y num “pólo de desenvolvimento tecnológico”, porque o futuro dos empregos está na economia do conhecimento, terceira onda, blablablá Whiskas Sachê etc. Concordamos, mas antes seria interessante resolver alguns pequenos detalhes estruturais, como por exemplo o descontrole total da criminalidade:

O SMS2blog, sistema criado para os brasileiros atualizarem o Twitter através de mensagens de celular com custo nacional, está indisponível.

O desenvolvedor do sistema, Luis Leão, foi roubado neste domingo e o aparelho que hospedava o serviço foi levado.

Infelizmente não há previsões para o retorno do sistema, tendo em vista o tamanho do investimento. [TwitterBrasil]


Issu é Braziu! O sujeito vai lá, usa seu conhecimento técnico para criar por conta própria um serviço necessário, vencendo dificuldades técnicas, apenas para ter seu equipamento roubado. Antes de querer entrar na Era Digital, talvez fosse uma boa tentar sair da Idade Média social.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Brasil toma ares de sitcom

Se você fosse escrever uma sketch de comédia sobre um secretário de estado dos EUA visitando o pelourinho, qual a PRIMEIRA situação cômica clichê você colocaria? Um pivete pedindo esmola, of course.

Isso aqui ô ô...

Menino pede R$ 1 para Rice em Salvador

SALVADOR - Um menino conseguiu driblar os agentes das Polícias Federais brasileira e norte-americana, além de policiais militares, e pedir R$ 1 para a secretária de Estado dos Estados Unidos, Condoleezza Rice, nesta sexta-feira, 14, durante o passeio dela por Salvador (BA). Rice não entendeu o pedido, mas o assédio das equipes de segurança fizeram o garoto fugir correndo.


...é um pouquinho de Brasil iá iá.

quinta-feira, 13 de março de 2008

Heróis da Nação

"Triste a nação que precisa de heróis" etc. Não sei quem escreveu isso e uma busca no Google não retorna nada conclusivo. A primeira vez que ouvi essa frase foi em meio à histeria coletiva da morte do Ayrton Senna. Ficou na minha cabeça e sempre achei interessante a total ausência de heróis na nossa cultura. Os poucos que existem (ou poderiam existir) foram enlameados por nossas "releituras" da história.

Mas há uma casta brasileira no século XX que paira sobre todas as outras com seu idealismo e sua história imaculada de lutas: aqueles que lutaram contra a ditadura militar. Estes sim compõem o verdadeiro panteão nacional, e nós pagamos seu peso em ouro pelo privilégio de termos estes super-homens entre nós.

Pausa para a história: me lembro uma vez no Rio em que eu comentei num almoço que a ditadura no Brasil matou menos de 500 pessoas. Uma garota na mesa ficou indignada. Não tem como culpar - se você não parar para avaliar as estatísticas, você acaba pensando que matou-se mais no Brasil que na Argentina e no Chile e em Cuba e sei lá onde.

Enfim. Nada disso é muito direcionado, são só coisas que passaram pela minha cabeça ao ler este artigo do Elio Gaspari de hoje. Porque o tratamento diferente? Porque Diógenes do PT é um herói, oras.

Em 2008 remunera-se o terrorista de 1968

DAQUI A OITO dias completam-se 40 anos de um episódio pouco lembrado e injustamente inconcluso. À primeira hora de 20 de março de 1968, o jovem Orlando Lovecchio Filho, de 22 anos, deixou seu carro numa garagem da avenida Paulista e tomou o caminho de casa. Uma explosão arrebentou-lhe a perna esquerda. Pegara a sobra de um atentado contra o consulado americano, praticado por terroristas da Vanguarda Popular Revolucionária. (Nem todos os militantes da VPR podem ser chamados de terroristas, mas quem punha bomba em lugar público, terrorista era.)
Lovecchio teve a perna amputada abaixo do joelho e a carreira de piloto comercial destruída. O atentado foi conduzido por Diógenes Carvalho Oliveira e pelos arquitetos Sérgio Ferro e Rodrigo Lefèvre, além de Dulce Maia e uma pessoa que não foi identificada.
A bomba do consulado americano explodiu oito dias antes do assassinato de Edson Luís de Lima Souto no restaurante do Calabouço, no Rio de Janeiro, e nove meses antes da imposição ao país do Ato Institucional nº 5. Essas referências cronológicas desamparam a teoria segundo a qual o AI-5 provocou o surgimento da esquerda armada. Até onde é possível fazer afirmações desse tipo, pode-se dizer que sem o AI-5 certamente continuaria a haver terrorismo e sem terrorismo certamente teria havido o AI-5.
O caso de Lovecchio tem outra dimensão. Passados 40 anos, ele recebe da Viúva uma pensão especial de R$ 571 mensais. Nada a ver com o Bolsa Ditadura. Para não estimular o gênero coitadinho, é bom registrar que ele reorganizou sua vida, caminha com uma prótese, é corretor e imóveis e mora em Santos com a mãe e um filho.
A vítima da bomba não teve direito ao Bolsa Ditadura, mas o bombista Diógenes teve. No dia 24 de janeiro passado, o governo concedeu-lhe uma aposentadoria de R$ 1.627 mensais, reconhecendo ainda uma dívida de R$ 400 mil de pagamentos atrasados.
Em 1968, com mestrado cubano em explosivos, Diógenes atacou dois quartéis, participou de quatro assaltos, três atentados a bomba e uma execução. Em menos de um ano, esteve na cena de três mortes, entre as quais a do capitão americano Charles Chandler, abatido quando saía de casa. Tudo isso antes do AI-5.
Diógenes foi preso em março de 1969 e um ano depois foi trocado pelo cônsul japonês, seqüestrado em São Paulo. Durante o tempo em que esteve preso, ele foi torturado pelos militares que comandavam a repressão política. Por isso foi uma vítima da ditadura, com direito a ser indenizado pelo que sofreu. Daí a atribuir suas malfeitorias a uma luta pela democracia iria enorme distância. O que ele queria era outra ditadura. Andou por Cuba, Chile, China e Coréia do Norte. Voltou ao Brasil com a anistia e tornou-se o "Diógenes do PT". Apanhado num contubérnio do grão-petismo gaúcho com o jogo do bicho, deixou o partido em 2002.
Lovecchio, que ficou sem a perna, recebe um terço do que é pago ao cidadão que organizou a explosão que o mutilou. (Um projeto que re- vê o valor de sua pensão, de iniciativa da ex-deputada petista Mariângela Duarte, está adormecido na Câmara.)
Em 1968, antes do AI-5, morreram sete pessoas pela mão do terrorismo de esquerda. Há algo de errado na aritmética das indenizações e na álgebra que faz de Diógenes uma vítima e de Lovecchio um estorvo. Afinal, os terroristas também sonham.